Jaraguaenses visitam casa de Ângelo Piazera na Itália; veja fotos!

Foto: arquivo pessoai
Memórias, reencontros e emoção marcaram a vida de um grupo de jaraguaenses que, no último mês, refizeram o caminho de seus anteados. Descendentes da família Piazera desembarcaram em Vigolo Vattaro, cidade no Norte da Itália, para se reconectarem com a terra natal dos imigrantes que – décadas atrás – partiram em busca de uma nova vida no Brasil.
A localidade, de ruas estreitas, casas de pedra e forte tradição rural se transformou em cenário de reencontros e homenagens.
A viagem, idealizada por Magalí Piazera — jaraguaense que atualmente reside em Vigolo Vattaro —, teve como objetivo reunir parte da família em um roteiro afetivo de memórias e reconexões com as raízes. Entre os visitantes estavam os irmãos de Magalí, Solange e Renato, além da cunhada, que também acompanhou no eio. Eles puderam conhecer de perto a terra de onde partiram os primeiros imigrantes da família.
Para isso, Magalí organizou uma programação especial ao lado da filha, Alessandra – também jaraguaense, que vive na Itália. Elas fizeram questão de proporcionar uma verdadeira imersão nas raízes piazeras, como a visita à casa em que viveu Ângelo Piazera, figura importante na construção e crescimento de Jaraguá do Sul.

Uma visita emocionante à terra dos anteados
O eio pelo vilarejo de Vigolo Vattaro, com suas construções antigas e paisagens que remontam séculos de história, foi um dos pontos altos da viagem. Os descendentes puderam ver, tocar e sentir o solo de onde partiram seus familiares em busca de novas oportunidades.
O grupo visitou o Maso Piazera, antiga residência da família, localizada em uma área rural nos arredores da cidade. O imóvel, feito de pedra e com estrutura original preservada, foi gentilmente apresentado pelo atual morador, que contou como o espaço funcionava antigamente.

No térreo, ficavam os animais e o estoque de feno; no andar de cima, as áreas de convivência da família. “O novo proprietário está reformando parte da casa, mas faz questão de manter a estrutura original. Foi emocionante ver cada detalhe e imaginar nossos anteados ali”, descreveu Alessandra.
“Foi a primeira vez que entrei na casa. As paredes, feitas de pedras, estavam impregnadas de uma história densa, de uma vida dura. Era como se o ado e o presente estivessem ali, se tocando”, completou ela.
Renato Piazera Junior, emocionado, classificou a visita como um sonho de infância realizado. “Desde pequeno ouvia meu pai e meu avô contarem histórias sobre a Itália. Estar aqui, pisar onde eles pisaram, nos faz compreender a dimensão da escolha que fizeram ao deixar tudo para trás. A vida aqui era muito difícil”, refletiu.

Magalí Piazera, que vive na região, também se emocionou. “Quando entrei naquela casa pela primeira vez, anos atrás, chorei. Foi como sentir a energia deles, como se ainda estivessem ali. Lembrei do quanto sofreram, da escassez, mas também da união que existia entre as famílias”, contou.
Ela contou, ainda, que vive hoje na cidade com uma pessoa natural de lá, que ama o Brasil e a recebe todos de braços abertos. “Sinto que hoje eu posso devolver um pouco da nossa história para cá”, destacou.
Solange Piazera também compartilhou o impacto que sentiu. “Estar naquele lugar me fez pensar em como teria sido deixar tudo isso para trás. Eles foram com coragem, sem saber o que encontrariam. Eu me senti fazendo uma homenagem a eles, como se estivesse honrando o que construíram”.
Dentro da antiga casa de Ângelo ainda há o Capitello, uma pequena capela, que abriga afrescos sacros, foi restaurada há alguns anos por iniciativa de Giacomo Piazzera, o mais velho representante da família na Itália. Ele aparece na foto abaixo, ao lado da filha Elisabetta. O gesto reforça o cuidado da família com a preservação da memória ancestral e dos vínculos espirituais que atravessam gerações.

Bosco delle Radici: homenagens à coragem dos imigrantes
Além da visita à antiga residência da família, outro momento marcante foi o reconhecimento coletivo da própria cidade ao esforço, coragem e sacrifício dos imigrantes.
Em um gesto carregado de simbolismo, a família Piazera participou do plantio de duas árvores no Bosco delle Radici, projeto criado para homenagear os descendentes de imigrantes trentinos e ajudar a reflorestar uma área atingida pela tempestade Vaia, em 2018.

A iniciativa, mantida pela prefeitura de Vigolo Vattaro desde 2023, transforma memória em paisagem e dá forma à conexão com o ado. As árvores foram dedicadas aos primeiros a deixarem a Itália, Domênico, Domênica e Ângelo Piazera, filho do casal e figura central na formação de Jaraguá do Sul.
“Essa homenagem simboliza o retorno de Ângelo à terra natal, como se disséssemos: ‘Vocês venceram, construíram uma cidade, uma história e uma família’”, afirmou Alessandra. Ela ainda lembrou da emoção coletiva: “A energia ali era como se estivéssemos completando um ciclo que ficou em aberto por gerações.”

A ideia de plantar as árvores foi de Magalí Piazera, que iniciou o contato com o projeto quando ainda participava do Círculo Italiano e Trentino de Jaraguá do Sul.
“Quando recebi o e-mail sobre o bosque das raízes, senti na hora que queria plantar uma árvore. Mas não queria fazer sozinha. Somos muitos no Brasil, e me parecia injusto fazer essa homenagem sem parte da nossa família presente. Fazer isso com meus irmãos e filha foi como trazer um pedaço de todos os nossos anteados de volta para cá”, disse.
Ela completou: “Foi como se estivéssemos recolocando a energia deles nesse solo, como se estivéssemos fazendo por eles esse caminho de volta que nunca puderam concluir.”

Reencontro com os Piazera italianos
Outro momento marcante da viagem foi o reencontro com os Piazera que permaneceram na Itália — descendentes daqueles que, séculos atrás, não embarcaram rumo ao Brasil. Parte dessa família vive até hoje em Vigolo Vattaro, e apesar do tempo e da distância, o sentimento foi de proximidade imediata.
Renato Piazera Junior relembrou com emoção o reencontro com Gino e Tiziana, casal que havia visitado Jaraguá do Sul há mais de duas décadas. “Foi muito significativo poder retribuir a visita e compartilhar esse momento com eles. Mesmo sem convivência, parecia que éramos da mesma casa”, disse.
Magalí, que mantém contato com os parentes italianos há cerca de 15 anos, destacou o interesse deles pela história dos Piazera no Brasil, mesmo com a barreira da língua. “Eles ficam encantados com os livros da tia Olga Piazera Majcher, folheiam página por página, pedem traduções. Mesmo escritos em português, eles querem entender tudo, porque se sentem parte dessa história também.”

Ela explica que são poucos os Piazera que restaram na Itália — ou melhor, Piazzera, como é escrito lá com dois Z. “A maioria das descendências por aqui vieram de filhas mulheres, por isso o sobrenome não foi tão propagado. Mas os que restaram, mesmo distantes, nos recebem com muito carinho. Sentem que somos parte da mesma história”, explicou.
Além da troca de histórias e registros, há uma curiosidade mútua que atravessa gerações e fronteiras, fortalecendo os vínculos de uma família que segue viva nos dois lados do oceano.
O valor de uma família que ajudou a construir Jaraguá
A trajetória da família Piazera está profundamente entrelaçada à história de Jaraguá do Sul, especialmente através da figura de Ângelo Piazera, nascido em 30 de agosto de 1867 em Vigolo Vattaro, Itália. Chegando ao Brasil aos nove anos, Ângelo estabeleceu-se em Jaraguá do Sul em 1891, onde desempenhou um papel crucial no desenvolvimento urbano e social da cidade.
Em 1907, juntamente com sócios, adquiriu um grande lote de terras da empresa Pecher & Cia. Após o fim da sociedade em 1916, Ângelo tornou-se o único proprietário dessas terras.
Demonstrando seu compromisso com o crescimento da cidade, Ângelo doou, em 29 de agosto de 1927, um terreno estratégico localizado no coração de Jaraguá do Sul. Essa doação foi fundamental para a construção da sede da istração municipal, inaugurada em 1941, e para a criação de um espaço público que se tornaria um dos mais emblemáticos da cidade: a Praça Ângelo Piazera.
Inicialmente chamada de Praça da Bandeira, foi rebatizada em 1959 em homenagem ao benfeitor.

A praça abriga elementos históricos significativos, como o Marco Zero do município, a Herma do Coronel Emílio Carlos Jourdan erguida em 1941, e a efígie de Ângelo Piazera esculpida em mármore e instalada em 2004. Além disso, o local ou por diversas revitalizações ao longo dos anos, a mais recente em 2023, que modernizou o espaço com novos mobiliários, áreas de convivência e ibilidade aprimorada, reforçando seu papel como ponto de encontro e símbolo da identidade jaraguaense.

Magalí reforça a importância de Ângelo para Jaraguá do Sul: “Ele não só ajudou a fundar bairros e abrir caminhos. Ele abriu a vida para nós. A nossa vida está muito mais simples do que a deles foi. Eles enfrentaram pobreza, fome, perderam um filho no navio a caminho do Brasil… Mas venceram. Plantar uma árvore com o nome dele foi nossa forma de dizer isso.”
Ela ainda destacou a relevância de tornar essa memória mais conhecida na própria cidade. “Muita gente em Jaraguá não conhece a história do Ângelo, e precisamos valorizar mais essa trajetória.”
Como isso impacta sua vida?
Esta oportunidade de reecontro com as origens da família Piazera na Itália é um convite a resgatar memórias, valorizar a história local e reconhecer o legado de tantas famílias que ajudaram a construir Jaraguá do Sul. A história de Ângelo e seus descendentes, celebrada em solo italiano, mostra a importância de manter viva a memória e reforça o orgulho pelas raízes que atravessaram oceanos para florescer aqui.
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.