Conheça a misteriosa história da cidade submersa de Santa Catarina

Foto: Prefeitura de Itá
Muitos mistérios se escondem sob as águas catarinenses, mas, provavelmente, o maior deles está no Oeste do estado. Hoje, a gente te convida para conhecer a história de Itá, uma pacata cidade que está submersa há mais de 20 anos.
Em meados de 2000, Itá, que tinha dois mil habitantes, foi alagada por mais de 49 mil metros cúbicos de água, para alimentar uma usina hidrelétrica da região. Na época, era uma cidade muito pequena, com aproximadamente 200 casas, mas era, antes de tudo, o lar de muitas famílias que tiveram que abandonar a própria história, para dar lugar à usina.
O questionamento que fica é: por que acabar com uma cidade inteira para construir uma usina? Bom, na época, os investidores gostaram muito da geografia da região, que era favorável para a obra. Assim, foi uma questão de tempo para os escombros da Itá serem retirados e o município ser inundado.
E os moradores? Se mudaram para a “Itá nova”, a cinco quilômetros dali, onde tudo foi construído do zero, e muito bem planejado. Hoje, Itá é uma das poucas cidades planejadas do Brasil, assim como Brasília – só que bem menor, claro.
Mas essa história não acaba por aqui, ela também carrega um mistério – principalmente para quem a por lá e avista uma cena curiosa (ou misteriosa). Toda a cidade ficou debaixo d’água, com exceção de duas torres da antiga igreja matriz de São Pedro.

O mistério da igreja
A igreja Matriz de São Pedro continua lá, com 15 metros das torres à vista, enquanto outros 10 metros da construção estão submersos. A pergunta a se fazer agora é: mas por que? Bom, ninguém sabe explicar ao certo, mas em entrevista o morador e ex-secretário de turismo do município Altir Goedert, disse: “Nós temos o foco histórico baseados nos fatos, e temos a história baseada nos contos.”

Moradores contam que a parte de trás da igreja até foi demolida com um trator, mas quando colocaram um cabo de aço para derrubar as torres, ele estourou. Dias depois, tentaram novamente demolir as torres da igreja, mas o trator estragou. Bizarro ou não, real ou não, vai dizer que não é uma boa história?
Mas há quem explique essa história de um jeito diferente: as torres foram mantidas pela força divina. Nesta versão da história, um padre teria jogado uma praga na cidade. Este padre, na época, não era muito bem aceito pela comunidade e, no dia em que foi embora, olhou para trás e disse “um dia essa cidade haverá de ser inundada”. E não é que aconteceu, mesmo?
Maldição ou não, as torres continuam de pé, mesmo após as tentativas de derrubada e a inundação. Hoje elas fazem parte do imaginário popular da comunidade catarinense e viraram atração turística da região Oeste.
A hidrelétrica de Itá
Você sabia que as hidrelétricas correspondem a 90% da energia elétrica produzida no Brasil? Mas infelizmente a construção de barragens já provocou muitos impactos sociais – lembrando aqui dos desastres de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais – e ambientais no nosso país.
Segundo dados do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), estima-se que um milhão de brasileiros já sofreram impactos pela construção de usinas, e que 70% dessas pessoas não receberam indenização.
Até onde se sabe, este não foi o caso de Itá. Todas as famílias moradoras do município foram indenizadas e realocadas para a nova faixa de terra, que foi nomeada de Itá, a “nova Itá”.
Mas e a natureza? Bom, a Usina Hidrelétrica (UHE) afetou, e muito, a vida animal e vegetal. Apesar dessas estruturas utilizarem um recurso natural renovável, que é a água, elas causam grande desmatamento prejudicando fauna e flora. Muitas árvores de madeira de lei são derrubadas, já outras são submersas – apodrecendo debaixo d’água e favorecendo a proliferação de mosquitos causadores de doenças. Sem contar que muitos animais silvestres morrem, por não haver a possibilidade de resgatá-los.

Muito triste, né? Porém, quando se fala em contrapartida econômica, a construção da UHE Itá gerou cerca de 2,5 mil empregos diretos e 1,5 mil indiretos, contribuindo para o desenvolvimento econômico da região. A obra foi realizada por uma parceria da iniciativa privada, via consórcio Itá com o Governo Federal, tendo o custo de R$ 1 bilhão (em valores da época).
O desvio do rio aconteceu através de cinco túneis, com aproximadamente 500 metros de comprimento cada. A inauguração da usina aconteceu no dia 19 de setembro de 1997.
Quer conhecer um pouco mais dessa história? Assista ao vídeo:
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.