Jaraguaenses mundo afora: conheça a jovem atleta que brilha no vôlei universitário dos EUA

Arquivo pessoal
Quando o voleibol entrou na vida de Luiza da Cruz, ela era uma criança. Mas o esporte, que antes não ava de um hobby e uma brincadeira com os amigos, foi a porta de entrada para uma jornada que hoje atravessa fronteiras.
Em 2023, aos 19 anos, Luiza trocou Jaraguá do Sul pelos Estados Unidos após conquistar uma bolsa integral para estudar e jogar no país. Agora ela defende universidades no cenário do vôlei norte-americano, enquanto acumula experiências que vão muito além das quadras.

Na série Jaraguaenses mundo afora, compartilhamos trajetórias como a de Luiza, no intuito de mostrar que dedicação, coragem e um toque de saudade são ingredientes potentes na construção de uma trajetória fora do comum.
Como tudo começou
Apesar de vir de uma família que sempre teve afinidade com o esporte, foi o incentivo de uma amiga de infância que a fez dar os primeiros os nas quadras. O que começou como curiosidade logo se transformou em rotina – e depois, em paixão.
Durante sua formação em Jaraguá do Sul, Luiza viveu momentos importantes que hoje leva consigo como incentivo para a carreira lá fora, mas um deles ocupa um lugar especial na memória: a conquista dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina, em 2022. A competição, marcada por desafios, testou os limites dela e da equipe jaraguaense.
Sem três jogadoras titulares e com uma semifinal praticamente perdida, o time protagonizou uma virada histórica. Com garra e união, elas conseguiram virar e vencer no tie-break. Para Luiza, foi uma lição inesquecível sobre superação coletiva.
Da rotina em Jaraguá à vida universitária nos EUA
A decisão de sair do Brasil e estudar nos Estados Unidos não foi simples. Até então, Luiza nunca havia ficado longe de casa, e a mudança significava não apenas se adaptar a um novo país, mas também abrir mão da presença diária da família e dos amigos.
Ao chegar em solo norte-americano, além da nova língua, precisou lidar com costumes, hábitos e mentalidades de um time multicultural, composto por jogadoras de nove países diferentes. A comunicação, por vezes, era um desafio. Algumas colegas não falavam inglês, o que a motivou a aprender espanhol para tornar o convívio mais ível e fortalecer o espírito de equipe.

A convivência, no fim das contas, se transformou em aprendizado. “Estávamos todas longe da família, e isso criou uma rede de apoio entre nós. Cada uma fazia o possível para que a experiência fosse mais leve para todo mundo.”
No meio disso tudo, Luiza também precisou encarar uma nova rotina, intensa e cheia de responsabilidades. As manhãs dedicadas às aulas da universidade; e à tarde, os treinos, seguidos por sessões de academia e preparação física. Durante a temporada, que vai de agosto a novembro, os jogos acontecem duas vezes por semana, exigindo foco e consistência. Fora isso, a jovem também precisou aprender a lidar com as responsabilidades do dia a dia, como cozinhar suas próprias refeições, ir a lugares como hospitais sem companhia e istrar o tempo com autonomia.
Raízes brasileiras no dia a dia longe de casa
Mesmo com o coração aberto para o novo, Luiza nunca deixou para trás o que construiu em casa. Durante seus dois primeiros anos nos Estados Unidos, ela dividiu apartamento com outras atletas, entre elas uma brasileira.
Juntas, encontraram maneiras simples, porém significativas, de manter o Brasil por perto. A rotina incluía músicas brasileiras nos dias de faxina, receitas como strogonoff feitas com carinho e o clássico brigadeiro, que virou queridinho entre as amigas estrangeiras. Esses pequenos rituais ajudavam a lidar com a saudade e criavam um ambiente mais acolhedor.
Apesar de já falar inglês fluentemente, seu sotaque sempre chamou atenção dos nativos, o que costuma render boas conversas. “Gosto de brincar e pedir para as pessoas adivinharem de onde eu sou antes de contar, e a resposta mais comum é algum país da Europa, como a Alemanha”, diz. A coincidência a diverte, principalmente porque Jaraguá do Sul tem forte influência da cultura alemã – algo presente também em sua família.
Quando finalmente revela sua origem, ela aproveita para contar sobre a cidade que tanto ama:
“Sempre digo que é uma cidade bonita, segura e muito ligada ao esporte. E, claro,preciso explicar a distância até São Paulo ou Rio, que são as únicas cidades brasileiras que a maioria conhece”, conta entre risos.
Mas nem tudo foi simples, e ela não esconde isso. A adaptação emocional talvez tenha sido o maior dos desafios. “Os primeiros seis meses foram os mais difíceis. Senti falta da minha mãe, do convívio com a família. Às vezes, tudo o que a gente precisa é de um abraço”, acrescenta.
Para contornar a distância, Luiza buscou manter contato constante com quem ficou no Brasil: ligações diárias, mensagens, fotos e conversas que ajudavam a diminuir a sensação de ausência. Com o tempo, essa saudade foi se transformando em motivação para seguir firme.

“Hoje, sei que essa decisão foi fundamental para o meu crescimento. Aprendi a me virar sozinha, a cuidar de mim, a tomar decisões importantes. E, acima de tudo, percebi que, mesmo longe, o amor e o apoio da minha família continuam presentes.”
Conquistas em quadra, descobertas fora dela
Dentro de quadra, os resultados também vieram. Representando o Miami Dade College, Luiza foi vice-campeã nacional por duas vezes e recebeu prêmios individuais, frutos do seu desempenho consistente e do comprometimento com o esporte. Essas conquistas reforçaram sua confiança e mostraram que o esforço feito até ali havia valido a pena.
E fora o trabalho duro, ela viveu momentos que antes pareciam distantes da realidade. Além de morar em Miami, uma cidade que sempre fez parte do seu imaginário, teve a oportunidade de conhecer diferentes regiões dos Estados Unidos. Fez um cruzeiro para as Bahamas com amigas no final de 2023, e realizou o antigo sonho de infância ao visitar os parques temáticos de Orlando.

Essas experiências, além de marcantes, serviram como ponto de equilíbrio entre a intensidade da rotina esportiva e a leveza das descobertas pessoais.
Nova etapa: rumo à Califórnia
Agora, Luiza entra em uma nova fase de sua carreira. Recentemente, ela se transferiu para a California State University – Bakersfield, onde a a competir em uma liga universitária ainda mais exigente e técnica. Mas apesar das exigências, ela está animada.
“Quero crescer, aprender com outros estilos de jogo, entender o que cada técnico pode me ensinar. Essa transição exige mais de mim, mas também me prepara para o próximo nível do esporte”, afirma.
Com a maturidade de quem viveu muitas aventuras e desafios nos últimos anos, Luiza encara a mudança com serenidade – e a mesma determinação que a levou a deixar Jaraguá para viver tudo isso.
Conselhos para quem também sonha alto no esporte…
E para quem sonha em trilhar um caminho parecido, Luiza deixa um conselho: o segredo é a constância. Segundo ela, ter potencial é sempre bom, mas é preciso trabalhar com foco e todos os dias, mesmo quando ninguém estiver olhando.
“Levo comigo uma frase que estampava minhas camisetas de treino: ‘Hard work beats talent when talent doesn’t work hard’. O esforço supera o talento quando o talento não trabalha duro.”

Ela reforça que cada atleta conhece seus próprios sonhos, e também sabe o quanto está disposto a sacrificar por eles. A jornada não é fácil, mas com disciplina, foco e paciência, os resultados chegam.
Como isso impacta sua vida?
A história de Luiza da Cruz é um exemplo real de que disciplina e coragem abrem caminhos. Que sair de casa pode doer no começo, mas também pode ser a chance de encontrar novos horizontes. E, mesmo distante, é possível manter as raízes vivas — e usá-las como força para seguir.
Ela mostra também que, sim, o mundo pode parecer grande — mas quem carrega foco, disciplina e amor pelo que faz consegue se adaptar, crescer e fazer a diferença.
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.