Separado nos anos 60, casal de SC revive o amor quase 50 anos depois

Fotos: Arquivo pessoal
Uma história de amor que resistiu ao tempo, distâncias e desafios da vida, e encontrou seu recomeço em solo catarinense. O reencontro de Fenísio Pires e Tarcita Buratto é daqueles que emocionam e alimentam a centelha de esperança que muitos de nós temos: a de que o amor pode, sim, vencer e encontrar seu caminho de volta.
O que começou em 1966 como um romance adolescente, e separado por quase cinco décadas, o destino tratou de unir novamente. Hoje, aos 74 e 73 anos, respectivamente, eles vivem uma vida cheia de afeto, cumplicidade e gratidão. E não por acaso: Jaraguá do Sul teve um papel especial nesse recomeço.

Moradores de Indaial, no Vale do Itajaí, o casal celebra esse amor todos os dias, como provas vivas de que o sentimento, quando verdadeiro, não conhece prazo de validade.
>> Esta é uma reportagem especial de Dia dos Namorados, como uma homenagem às histórias de amor que inspiram e resistem às adversidades.
Eles se apaixonaram na década de 1960
Era 1965, e foi na pequena cidade de Bom Retiro que Fenísio viu Tarcita pela primeira vez. Ela tinha se mudado de Urubici para concluir os estudos e, para ele, foi amor à primeira vista. “Achei ela linda. Estudávamos na mesma sala, mas eu era muito tímido. Mesmo sendo adventista, ia escondido à missa só pra ver ela ar”, relembra ele.
Só que foi no ano seguinte, após o desfile do Dia da Independência, em 14 setembro de 1966, que o destino tratou de cruzar, de vez, os caminhos dos dois. O desfile de comemoração ao Dia da Independência, inicialmente marcado para o feriado, acabou adiado para o fim de semana seguinte por causa da chuva intensa que caiu sobre Bom Retiro.

Coincidentemente, naquela mesma data, um amigo de Fenísio foi visitar a namorada na cidade — e o convidou para ir junto. Ao chegarem, a surpresa: Tarcita dividia a casa com a moça.
Os quatro jovens conversaram por horas na cozinha, até que o casal de amigos foi para a sala, e deu oportunidade de os protagonistas desta história se conhecerem melhor.
“Ficamos ali sentados conversando, mas eu estava muito nervoso e quase não conseguia falar. Até que ela tomou a iniciativa de me beijar; eu nunca tinha beijado ninguém. Naquela noite eu não dormi!”, relembra Pires entre risos.
O romance floresceu numa época em que o amor era cultivado com paciência e poesia. Era comum trocar bilhetes, escrever músicas e expressar os sentimentos no papel — e Fenísio não fugia à regra. Tão encantado por Tarcita, ele escreveu um poema para ela em 1966, como forma de eternizar aquele sentimento nascente. Uma lembrança que resistiu ao tempo como o próprio amor dos dois.
Confira o poema que Fenísio escreveu para Tarcita em 1966
Foi inevitável, os jovens pombinhos começaram um belíssimo namoro. Mesmo com a oposição dos pais dela, que os obrigava a se encontrar escondidos, eles tiveram até o apoio de alguns professores, que os deixavam sentar juntos na sala.
Mas uma cena numa festa virou ponto de virada: uma jovem beijou Fenísio e, mesmo sem reciprocidade, isso bastou para que Tarcita decidisse se afastar. O namoro terminou ali, e cada um precisou seguir em frente.
Cartas, distâncias e novos caminhos
Em 1969, buscando oportunidades profissionais, Fenísio foi a Florianópolis tentar a vida como vendedor de enciclopédias. Um dia, viu um anúncio chamando jovens para servir o Exército em Brasília e decidiu se alistar. Para isso, precisou voltar a Bom Retiro pegar documentos. Foi quando reencontrou Tarcita — e a chama reacendeu. “Ela prometeu que ia me esperar, e eu saí de lá feliz da vida”, recorda ele.
Durante o serviço militar, os dois mantinham o contato por cartas cheias de juras de amor. Mas o destino pregou outra peça: em 1971, Tarcita se casou. Fenísio também seguiu em frente — mudou-se para o Rio de Janeiro e formou família.

Coincidentemente, ambos tiveram três filhos: ela, duas meninas e um menino; ele, dois meninos e uma menina. Mesmo separados, os dois nunca perderam totalmente o contato, sempre sabendo um do outro por meio de amigos em comum.
Nos anos 1990, ambos perderam seus cônjuges. E aí o destino voltou a dar sinais. Tarcita propôs um reencontro, e os dois aram a se ver na rodoviária de Curitiba por três anos seguidos. Mas, quando ela sugeriu que ficassem juntos, Fenísio ainda não estava pronto — e se afastaram novamente.
Cena de cinema em Jaraguá do Sul
Já aposentado, em 2019, Fenísio voltou para Santa Catarina e foi morar perto dos filhos, em Jaraguá do Sul. Até que um dia, viu uma foto de Tarcita com as irmãs no Facebook e decidiu comentar. Foi o primeiro o para mais um recomeço.
“Eu nem sabia que ele estava em SC de novo. Fui para Curitiba visitar minhas irmãs e, depois da foto publicada, combinamos de nos encontrar. Fiquei dias pensando naquilo, e na semana seguinte viajei a Jaraguá do Sul para rever ele”, conta ela.
O encontro foi como cena de filme. “Foi surreal. Quando vi ela descendo os degraus do ônibus, empurrei o portão de embarque e saí correndo para abraçar e beijar ela. Foi muito bacana, feito cena de filme”, descreve Fenísio, emocionado.
Para Tarcita, aquele reencontro foi mais do que um abraço esperado — foi a confirmação de que o amor da juventude tinha se transformado em algo ainda mais maduro e profundo. “Naquela hora eu soube: ele era o amor da minha vida. O que antes era uma paixão adolescente, agora era amor de verdade. Já não era mais tempo de se apaixonar, era tempo de amar”, reflete.

E tudo deu tão certo, que eles aram vários dias juntos e decidiram compartilhar um futuro a dois. Ficaram um tempo em Jaraguá, até que se mudaram para Palhoça, onde Tarcita já residia.
Há dois anos, Fenísio e Tarcita escolheram Indaial para viver. Uma cidade tranquila e cheia de charme, e é por lá que aproveitam cada momento com leveza e alegria. Entre encontros com os filhos e netos, cultivam o que há de mais precioso: o amor reconstruído.
“Nos damos muito bem e me sinto muito amada. Não é qualquer um que tem a oportunidade de ter uma história como a nossa”, diz ela, com o brilho de quem sabe que o tempo pode até ar, mas o amor, quando é verdadeiro, encontra um jeito de voltar.
Para ela, o amor é mais do que emoção — é entrega e cuidado mútuo. “O amor é complexo, mas acima de tudo é querer o bem do outro. O Fenísio sempre quer o meu melhor. E se não faz, é porque não pode. E eu também quero o melhor para ele. Isso é amor”, resume com serenidade.
O que sustenta o amor?
Com a experiência de quem viveu encontros, desencontros e reconciliação, Tarcita acredita que o segredo do amor está nos gestos simples. “Tem que ver se a pessoa é carinhosa com a família. Isso já mostra muito sobre alguém”, diz.

Segundo ela, o romantismo é o que falta hoje. E lamenta a pressa das relações modernas; ela acredita que falta o ingrediente que sustentava os vínculos de sua juventude. “Hoje os casamentos não duram porque fazem tudo correndo. Não tem mais romantismo. E é isso que segura o amor. Isso eu posso garantir.”
Para ela, o reencontro com Fenísio foi traçado por algo maior. “Depois que fiquei viúva, conheci outras pessoas, mas nunca dava certo. Reencontrar o Fenísio, eu nem imaginava… só Deus poderia ter feito isso acontecer.”
E você, ainda acredita no amor?
Histórias como a de Fenísio e Tarcita são um sopro de esperança em tempos em que tudo parece descartável — inclusive os sentimentos. Eles mostram que o amor não tem prazo de validade e que o reencontro pode ser mais bonito do que o começo. Que amar exige coragem, entrega e, às vezes, paciência para esperar o tempo certo.
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Como isso impacta a sua vida?
A história de Fenísio e Tarcita mostra que o tempo não apaga sentimentos verdadeiros — ele amadurece, transforma e, às vezes, dá uma nova chance. É um convite a acreditar que o amor pode florescer de novo, quando menos se espera.
Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.