Como um teste de DNA caseiro ajudou mãe e filha se reencontrarem após mais de 30 anos em SC

Fotos: Arquivo pessoal
A vida da terapeuta holística Katlin Medelene Wormsbecher seguia tranquilamente o seu rumo em Guaramirim, cidade que escolheu para estabelecer seu lar há mais de dois anos. Mas bastou uma suspeita de gravidez para reacender uma inquietação antiga: de onde realmente veio">
Ela sempre soube que era adotada. Nascida na maternidade de Rio Negro (PR), ainda bebê foi acolhida e criada com muito amor por uma família de Mafra, no Planalto Norte catarinense. Cresceu feliz e ao lado de dois irmãos: Carla, a primogênita, e Tiago, nascido apenas nove meses depois dela. Ainda assim, sentia que precisava compreender um pouco melhor sua história e identidade.

O que ela não sabia, três anos atrás, era que um teste de DNA – desses que se encontra na internet para fazer em casa -, daria início a uma jornada que a levaria ao reencontro com mãe biológica, de quem ficou longe por mais de 30 anos.
>> Antes de continuar a leitura, é importante saber: essa história ganha ainda mais relevância neste 25 de maio, em que é celebrado o Dia Nacional da Adoção. A data reforça o valor de trajetórias como a de Katlin e tantas outras que mostram que o amor nasce da escolha e do acolhimento.
Um teste e o início de uma nova história
Decidida a iniciar as buscas, mas sem condições de arcar com os custos de um teste de DNA naquele momento, Katlin buscou alternativas em grupos de apoio no Facebook voltados à busca por famílias separadas pela adoção. Foi lá que encontrou uma voluntária disposta a doar um kit da Genera – empresa especializada em exames genéticos domiciliares. Em troca, ofereceu uma leitura de baralho cigano, prática que domina como parte do seu trabalho com terapias holísticas.
O kit chegou pelo correio e ela mesma fez a coleta de saliva seguindo as instruções, para, então, enviar o material ao laboratório de análises. Dias depois, ao ar os resultados pela internet, se deparou com o primeiro elo familiar: o nome de um primo de segundo grau, identificado como Max Pires – Que inclusive estava mais perto do que ela imaginava, em Jaraguá do Sul.

A partir dali, começou a cruzar dados em plataformas de genealogia, buscar em redes sociais, e conversar com pessoas ligadas a esse nome, para expandir os caminhos. Como já sabia o nome da mãe biológica – Maria Salete Alves -, essa informação, aliada ao teste de DNA, foi essencial para direcionar a busca. Até que chegou a Paulo Silva, filho de um primo de primeiro grau que mora nos Estados Unidos, e as ligações familiares começaram a ganhar forma.
“Confesso que eu estava bem apreensiva com a receptividade das pessoas. A gente nunca sabe como elas vão encarar essas informações.”
Ao conversar com Paulo, descobriu que o pai dele também havia sido adotado e se ofereceu para ajudá-lo a encontrar a mãe biológica. Uma das voluntárias que estava ajudando no processo encontrou um número de WhatsApp que pertencia ao filho dela. “Imagina a situação… ficamos sem saber se falávamos ou não, porque, às vezes, a história não é contada para os filhos que vieram depois.” O rapaz até ficou desconfiado, mas prometeu confirmar a informação.
Depois de conversar com a família, ele retornou, e era ela mesmo! Mas uma coincidência maior veio em seguida: no exato momento em que tudo se esclareceu, o homem contou que Maria Salete, mãe de Katlin, era tia dele estava na casa da mãe, fazendo uma visita.
O contato foi imediato; elas trocaram contatos e mensagens. “Foi bem impactante, uma mistura de alegria com aquele medinho… a gente fica sem saber como vai ser tratada, o que vai ouvir. Mas foi um dos momentos mais felizes da minha vida.”
Semanas depois da primeira conversa à distância, ela combinou de encontrar a mãe pessoalmente em Santa Cecília, no Oeste de Santa Catarina. E foi um reencontro muito afetuoso e acolhedor, em que ela ainda pôde conhecer o irmão James, filho de Maria Salete, que também foi muito receptivo.
“Foi tranquilo, leve. Nos encontramos como se tivéssemos apenas nos afastado por um tempo”, relembrou Katlin.
Outros encontros marcaram essa jornada de busca pelas próprias raízes. A terapeuta ainda teve a oportunidade de conhecer Dionatha, irmão por parte de pai (já falecido). A conexão com ele aconteceu por meio de uma amiga em comum que, por coincidência, era parente do seu pai biológico. Quando a mãe de Dionatha soube da história, emocionada, correu para contar ao filho, que logo entrou em contato com Katlin.

O primeiro contato pessoal foi especial, houve churrasco em família, abraços sinceros e acolhimento caloroso. “Foi muito gostoso, uma festa. Fui recebida com muito carinho por todos”, conta, ao afirmar que mantém contato frequente e de muita amizade com o novo irmão.
Ancestralidade, conexões e pertencimento
Além do impacto emocional, a experiência revelou uma herança que Katlin reconheceu de imediato: a espiritualidade. A mãe biológica mantinha hábitos parecidos com os dela, como acender velas, pedir proteção e realizar orações. “Descobri que isso vem da minha ancestralidade. Explicou muito sobre mim”, afirmou.
O reencontro também trouxe esclarecimentos importantes para sua saúde, pois com o ao histórico genético, ela pôde entender condições médicas que antes pareciam desconexas. “Tenho muitas alergias, e nunca soube de onde vinham. Agora tudo começa a fazer sentido.”
Hoje, aos 37 anos, ela sente que pertence a dois mundos. E mais do que isso: agora está inteira. A mãe adotiva, que sempre teve muita conexão e cuidado com Katlin, inicialmente teve receios quanto a essa busca, mas posteriormente acolheu o processo com serenidade.
“Tenho duas famílias que me amam e me sinto muito feliz com toda essa descoberta.”

A adoção e o direito de entender as próprias origens
Katlin defende a adoção como um gesto de amor profundo, principalmente pelo privilégio de ter tido uma família que lhe deu tudo o que sempre precisou, e muito carinho. Mas também reforça a importância de as pessoas poderem saber de onde vieram, pois, a partir dessas informações, é possível entender melhor questões de saúde física e emocional.
“Tudo o que é conversado e exposto com verdade é mais fácil de lidar”, acrescenta.
A história de Katlin é sobre reconstrução. Sobre coragem de olhar para trás para poder seguir adiante com mais leveza. Guiada por intuição, tecnologia e afeto, ela conseguiu encontrar a própria completude.
Curiosidade: a maior árvore genealógica do mundo
Durante a busca por suas origens, Katlin usou diversas plataformas de genealogia e ancestralidade. Uma delas foi o FamilySearch, plataforma gratuita mantida por uma organização ligada à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecidos como mórmons. Fundado com o objetivo de conectar espiritualmente gerações adas e futuras, o sistema se tornou a maior base de dados genealógicos do mundo. Curioso, não?
Com mais de 15 bilhões de nomes registrados, o FamilySearch alimenta um projeto ambicioso que pretende reconstruir a linhagem da humanidade desde os tempos antigos. Mas além do aspecto espiritual, a plataforma se tornou um recurso valioso para pessoas adotadas, descendentes de imigrantes e pesquisadores que buscam entender suas raízes e compor suas árvores genealógicas com mais profundidade.
Como isso impacta sua vida?
Histórias como esta mostram que nunca é tarde para buscar as próprias origens. A facilidade ao o a testes de DNA, como o que ela fez, e a existência de redes de apoio online têm possibilitado reencontros emocionantes e reconstruções familiares. Além disso, a trajetória dela faz refletir sobre a importância de saber de onde viemos, para poder dar os importantes em direção de onde iremos – e, quem sabe, no meio do caminho, encontrar conexões, amor e pertencimento.
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Gabriela Bubniak
Jaraguaense de alma inquieta e jornalista apaixonada por contar boas histórias. Tenho fascínio por livros, música e viagens, mas o que me move é viver a energia de um bom futsal na Arena e explorar o que há de melhor na nossa terrinha.